BCL11A
Durante a
gestação e até cerca dos seis meses de idade, o organismo produz apenas
hemoglobina fetal, que tem muita afinidade para o transporte de oxigénio. Nos
fetos, a obtenção de oxigénio a partir do sangue da mãe é conseguida
devido ao desenvolvimento desta
hemoglobina. No entanto, por volta desta
idade, a produção de hemoglobina fetal decresce abruptamente e passa a ser
produzida hemoglobina adulta. Duas das quatro cadeias da hemoglobina fetal e do
adulto (cadeias alfa - α) são idênticas, mas a hemoglobina no adulto tem duas
cadeias β (beta), enquanto que o feto tem duas cadeias gama (γ). Pessoas com
talassemia beta maior carecem totalmente de cadeias beta da hemoglobina adulta,
ou possuem-nas em reduzido número. Isto torna a hemoglonina adulta ineficiente
e provoca problemas de eritropoiese ineficaz, carência de oxigénio e alterações
físicas típicas dos portadores desta patologia: grande volume de baço e
deformações ósseas.
Uma solução
para este problema passaria por conseguir fazer com que se voltasse a produzir
hemoglobina fetal, para compensar a ineficiência da hemoglobina adulta. É aqui
que o gene BCL11A desempenha um papel fundamental. O gene BCL11A, presente no
cromossoma 2, codifica uma proteína de domínio dedo de zinco que bloqueia a
sínteses de cadeias de γ-globina. Funciona como repressor, ao ligar-se ao DNA e
bloquear a expressão de genes de γ-globina, do cromossoma 11. Ao silenciar esta
proteína, consegue-se fazer com que o gene correspondente ás cadeia de globina
gama volte a ser produzido. Desta forma, é possível a produção de heboglobina
fetal, que compensará as falhas da hemoglobina adulta.
No nono simpósio, é descrita uma experiência inovadora,
realizada pelo Dr. Orkin, do Howard Hughes Medical Institute, nos Estados
Unidos, com ratos talassémicos. Silenciou o gene BCL11A e os ratos apresentaram
grandes melhorias, como diminuição do baço, que era maior do que o normal.
Apesar de ser uma descoberta recente, se se conseguir utilizar este mecanismo
em pessoas que sofram desta patologia, pode-se conseguir reverter muitos dos
efeitos da talassemia β (diminuição do baço, alivio da fadiga e das dores
musculares) e um aumento da esperança de vida para estes pacientes.
"Acho que
demonstramos que uma única proteína nas células é um alvo que, se sofresse
interferências, proporcionaria hemoglobina fetal suficiente para fazer os
pacientes melhorarem. Há três décadas que se coloca a hipótese de que a hemoglobina
fetal poderia ser ativada, quando entendessemos o mecanismo de tansição da
hemoglobina, e esta é a primeira evidência de um alvo para fazer isso" Dr.
Stuart Orkin.
Ilustração 2- Genetics Home Reference
Gene BCL11A (Cromossoma 2, do par 60,678,301 até ao par
60,780,632)
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